4.11.12
Ainda e Sempre o Malfadado Acordo Ortográfico da LP de 1990
Passou quase despercebida a entrevista que o Filólogo Evanildo Bechara, o grande defensor do Acordo, do lado brasileiro, deu à Revista Actual ( O Semanário grafa Atual ) do Expresso aqui há 2 semanas.
Nela, o reputado filólogo brasileiro tecia várias considerações sobre a dificuldade que o mesmo representaria para os falantes brasileiros da Língua Portuguesa, maior, afiançava, do que o esforço que os portugueses teriam de fazer na adopção do dito Acordo, o qual, não é na sua generalidade outra coisa senão a adesão quase total à ortografia anteriormente vigente no Brasil, desde que este revogou o Acordo de 1945, connosco conjuntamente elaborado e assinado.
Dir-se-ia tratar-se de mera provocação ou troça manifesta, não fora o prestígio académico da figura, que sempre nos concita o devido respeito.
Mas, como sabemos, de um saber também de experiência feito, com longo e honesto estudo misturado, assim dito à castiça moda camoniana, por vezes, no melhor pano cai a nódoa.
Valeria, por isso, bem a pena colocar o texto completo da entrevista na internet, para que todos possam avaliar da sem-razão deste académico, autor de meritórios trabalhos no domínio do estudo do nosso idioma, por enquanto ainda comum.
Estranhamente, pouca gente lhe respondeu e, dos mais habilitados na matéria, que eu saiba, ninguém.
Como interpretar tão humilhante silêncio, num País com tantos e tão valiosos pergaminhos no campo dos estudos filológicos ?
Modestamente, da minha parte, procurando contribuir para salvar a honra nacional ofendida, aqui deixo exarado o meu vivo repúdio por tão descabeladas afirmações de Evanildo Bechara na aludida entrevista.
Do mesmo passo, convém acrescentar que nada está definitivamente arrumado no que ao AO da LP de 1990 diz respeito. Assim se vá alargando o círculo dos falantes da Língua Portuguesa, na Europa, em África, na Ásia e no extremo-oriente, em Timor, que abertamente e legitimamente o contestam.
Lembremo-nos de que no Brasil levaram 10 anos para revogar o Acordo de 1945, o tal Acordo que, antes deste, haviam assinado conjuntamente com Portugal e pelo qual deveremos, nós outros, portugueses de nascimento, de coração e de convicção, continuar orgulhosamente a escrever a Língua que Fernão Lopes, Camões, Vieira, Bernardes, Garrett, Herculano, Camilo, Antero e Eça e muitos outros, antes e depois deles, se esforçaram por ilustrar e a nós nos cabe hoje preservar e honrar, se mais a não pudermos elevar.
Por conseguinte, o precedente existe e deve fazer jurisprudência no caso. Ânimo, então, a todos os que, na Europa, em África, na Ásia, na Oceânia e, por extensão, no resto do Mundo, se sentem defraudados pelo desassisado Acordo, na sua forma legítima de escrever e de falar.
AV_Lisboa, 04 de Novembro de 2012
Comments:
Caro Amigo Fernando Vouga,
A sua observação é pertinente e tem a força da comprovação local.
Na verdade, o Português falado no Brasil, especialmente por parte das camadas populares, há muito que se desligou de qualquer norma culta do idioma, a portuguesa ou a brasileira, traduzindo um fracasso enorme do esforço de alfabetização empreendido pelas autoridades brasileiras, por vezes, com certo alarido e alguma presunção.
Portugal deveria estudar com cuidados redobrados este fenómeno de corrupção da Língua, muito avançado no Brasil, para se prevenir de efeitos semelhantes aqui produzidos, facilitados sempre pelo desleixo escolar consentido, que começa, inevitavelmente, na má preparação científica e pedagógica dos Professores, elementos fundamentais de qualquer política educativa.
Daqui lhe envio um abraço e um agradecimento, meu caro amigo, pelas impressões oportunamente transmitidas, preciosamente colhidas no terreno com frequência aqui referido.
AV_08Nov2102
Há raciocínios brilhantes. Como a ortografia da nossa língua já passou por várias modificações e ninguém morreu por causa disso, é perfeitamente legítimo avançar com outra. E se for do interesse do Brasil, isso então é ouro sobre azul...
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Há dias, um amigo que gere uma empresa portuguesa de sucesso, implantada em vários países estrangeiros, confessava-me que não concorda nada com o malfadado acordo ortográfico, mas que para melhor atingir o mercado brasileiro tem a página de internet da empresa escrita em inglês e ...português do Brasil.
Respondi-lhe que lamentava, pois estava convencido de que não perderia qualquer negócio no Brasil se recorresse ao português de Portugal. Brinquei com ele dizendo-lhe que se o produto não penetra com o português de Portugal, duvido que penetre usando o português do Brasil como vaselina...
E disse-lhe mais.
Se ele tinha receio de que os potenciais clientes brasileiros não percebessem a página da empresa, que não se iludisse. Os brasileiros percebem muito bem o português escrito. O que eles podem não perceber tão bem é o português falado por portugueses (ainda que eu esteja convencido de que eles fingem muito...) mas até um brasileiro cego pode ver que o português de Portugal é muito mais escorreito do que o deles.
Aprendi ao longo da minha já longa vida que as pessoas que se sentem inferiores em relação a um qualquer atributo, raramente estão dispostas a fazer esforços no sentido se aproximarem daqueles em que observam a invejada superioridade. A maioria, quando tem poder para isso, prefere arrastar os superiores para o seu nível.
É o que os brasileiros estão a fazer com a língua portuguesa. Eles sabem muito bem que aquilo fizeram da língua que herdaram é uma trapalhada sem mérito, tanto do ponto de vista ortográfico como do ponto de vista sintáctico.
Arruinaram a língua alegremente, como é próprio de analfabetos arrogantes, convencidos de que tamanho é qualidade. Num continente repartido por uma multiplicidade de países, herdaram o maior de todos, um país de uma dimensão tal que podem aspirar a ser um dia uma grande potência. Esquecem-se e frequentemente não respeitam aqueles que lhes talharam a herança.
Respondi-lhe que lamentava, pois estava convencido de que não perderia qualquer negócio no Brasil se recorresse ao português de Portugal. Brinquei com ele dizendo-lhe que se o produto não penetra com o português de Portugal, duvido que penetre usando o português do Brasil como vaselina...
E disse-lhe mais.
Se ele tinha receio de que os potenciais clientes brasileiros não percebessem a página da empresa, que não se iludisse. Os brasileiros percebem muito bem o português escrito. O que eles podem não perceber tão bem é o português falado por portugueses (ainda que eu esteja convencido de que eles fingem muito...) mas até um brasileiro cego pode ver que o português de Portugal é muito mais escorreito do que o deles.
Aprendi ao longo da minha já longa vida que as pessoas que se sentem inferiores em relação a um qualquer atributo, raramente estão dispostas a fazer esforços no sentido se aproximarem daqueles em que observam a invejada superioridade. A maioria, quando tem poder para isso, prefere arrastar os superiores para o seu nível.
É o que os brasileiros estão a fazer com a língua portuguesa. Eles sabem muito bem que aquilo fizeram da língua que herdaram é uma trapalhada sem mérito, tanto do ponto de vista ortográfico como do ponto de vista sintáctico.
Arruinaram a língua alegremente, como é próprio de analfabetos arrogantes, convencidos de que tamanho é qualidade. Num continente repartido por uma multiplicidade de países, herdaram o maior de todos, um país de uma dimensão tal que podem aspirar a ser um dia uma grande potência. Esquecem-se e frequentemente não respeitam aqueles que lhes talharam a herança.
Caro Amigo,
Agradeço o sensato comentário aqui deixado.
Julgo que já seja evidente para qualquer pessoa medianamente informada que não será por via ortográfica que o Brasil se aproximará culturalmente de nós.
Exceptuando uma pequeníssima minoria, que conhece e estima a cultura portuguesa, os brasileiros, em geral, desenvolveram uma certa aversão a tudo o que culturalmente dimane de Portugal.
Na Língua, começaram por exacerbar as diferenças, os modismos, os regionalismos, o vocabulário e, por fim, pretenderam criar variantes gramaticais, o que deu na presente carnavalada sintáctica que se detecta na popular oralidade brasílica.
E, da oralidade descomposta, passaram à escrita trôpega, aos solecismos desbragados que imaginam poder sancionar pela força do número.
Cabe-nos a nós resistir, sem transigência com o erro e esperar que os brasileiros mais conscientes, com o tempo, venham a reconhecer que trilham um caminho ruinoso, no domínio do idioma.
Infelizmente, o esquerdismo nacional alinha na contemporização do erro, desculpando, absolvendo e até adoptando todas as incorrecções e demais dislates que vêm do outro lado do Atlântico.
Por isso, teremos de combater a degradação linguística simultaneamente em duas frentes.
Se formos firmes, talvez consigamos convencer os contumazes recalcitrantes.
Convém lembrar que, por vezes, a coerência compensa, desfeiteando os pusilânimes e os cabeças de vento.
Assim deveremos, pois, perseverar no combate ao erro.
Um abraço,
AV_05Nov2012
Agradeço o sensato comentário aqui deixado.
Julgo que já seja evidente para qualquer pessoa medianamente informada que não será por via ortográfica que o Brasil se aproximará culturalmente de nós.
Exceptuando uma pequeníssima minoria, que conhece e estima a cultura portuguesa, os brasileiros, em geral, desenvolveram uma certa aversão a tudo o que culturalmente dimane de Portugal.
Na Língua, começaram por exacerbar as diferenças, os modismos, os regionalismos, o vocabulário e, por fim, pretenderam criar variantes gramaticais, o que deu na presente carnavalada sintáctica que se detecta na popular oralidade brasílica.
E, da oralidade descomposta, passaram à escrita trôpega, aos solecismos desbragados que imaginam poder sancionar pela força do número.
Cabe-nos a nós resistir, sem transigência com o erro e esperar que os brasileiros mais conscientes, com o tempo, venham a reconhecer que trilham um caminho ruinoso, no domínio do idioma.
Infelizmente, o esquerdismo nacional alinha na contemporização do erro, desculpando, absolvendo e até adoptando todas as incorrecções e demais dislates que vêm do outro lado do Atlântico.
Por isso, teremos de combater a degradação linguística simultaneamente em duas frentes.
Se formos firmes, talvez consigamos convencer os contumazes recalcitrantes.
Convém lembrar que, por vezes, a coerência compensa, desfeiteando os pusilânimes e os cabeças de vento.
Assim deveremos, pois, perseverar no combate ao erro.
Um abraço,
AV_05Nov2012
«Valeria, por isso, bem a pena colocar o texto completo da entrevista na internet, para que todos possam avaliar da sem-razão deste académico,»
Disponibilizada versão integral no Facebook: https://www.facebook.com/notes/ilc-contra-o-acordo-ortogr%C3%A1fico/o-acordo-ortogr%C3%A1fico-%C3%A9-mais-dif%C3%ADcil-para-os-brasileiros-do-que-para-os-portugues/476327649079214?notif_t=like
Disponibilizada versão integral no Facebook: https://www.facebook.com/notes/ilc-contra-o-acordo-ortogr%C3%A1fico/o-acordo-ortogr%C3%A1fico-%C3%A9-mais-dif%C3%ADcil-para-os-brasileiros-do-que-para-os-portugues/476327649079214?notif_t=like
P.S.: estamos a ponderar reproduzir a mesma entrevista no "site" da ILC. Ponderação difícil, é claro, por absoluta falta de antecedentes; não apreciamos particularmente divulgar mentiras descabeladas ou citar mentirosos patológicos do calibre de Malaca.
Caro A.Viriato,
“[O AO] na sua generalidade [não é] outra coisa senão a adesão quase total à ortografia anteriormente vigente no Brasil.”
De facto, não é assim, a menos que se refira às vogais mudas que agora, com cem anos de atraso, são abandonadas. Quanto ao mais, os hábitos ortográficos brasileiros são mais afetados que os portugueses.
“[O Brasil] revogou o Acordo de 1945, connosco conjuntamente elaborado e assinado.”
Não é verdade. Quem assinou o acordo de 1945 foram os representantes brasileiros que o acordaram com os representantes portugueses. Acontece que os políticos do Brasil não aceitaram que fossem reintroduzidas na ortografia consoantes mudas que tinham sido eliminadas uns anos antes, assim como os políticos portugueses de 1945 também não teriam aceite voltar a escrever consoantes mudas que já tinham caído (ex: appellar, accommodar)
De resto, os políticos brasileiros fizeram com os acordos de 1945 o mesmo que Portugal fez com os acordos de 1943. A este respeito convém lembrar que em 1943 os representantes portugueses aceitaram a eliminação das consoantes mudas que tinham sobrado da razia de 1911, e o poder político português não aceitou.
“Lembremo-nos de que no Brasil levaram 10 anos para revogar o Acordo de 1945.”
Esta frase tem dois erros. Por um lado, como escrevi acima, o poder político brasileiro, lá como cá, não pode revogar o que não entrou em vigor. Por outro a rejeição foi, naturalmente, imediata. Provavelmente recorreu a uma fonte que o induziu em erro. Pode indicar a sua fonte, por favor?
“Estranhamente, pouca gente lhe respondeu e, dos mais habilitados na matéria, que eu saiba, ninguém.”
Não há nada de estranho na entrevista do professor Evanildo Bechara, pelo que ninguém intelectualmente honesto e/ou conhecedor da matéria o poderia contestaria. Assim mesmo Bechara comete um erro que, certamente por elegância louvável, o AV não referiu. A dado passo o Professor Bechara diz que Pessoa nunca aderiu à reforma de 1945. Como é evidente, este foi, obviamente, um lapso, porque Bechara queria referir-se à reforma de 1911.
“… deveremos, nós outros, portugueses de nascimento, de coração e de convicção, continuar orgulhosamente a escrever a Língua que Fernão Lopes, Camões, Vieira, Bernardes, Garrett, Herculano, Camilo, Antero e Eça.”
Desde 1911 que nós escrevemos com uma ortografia bastante diferente da usada por Camilo, Eça, Antero ou Garrett. A este respeito, as alterações do AO90 face à reforma de 1945 são muito pouco se comparadas com as alterações introduzidas unilateralmente por Portugal em 1911.
Acresce que Camões usou uma ortografia diferente de Fernão Lopes, e Garrett uma ortografia diferente de Vieira. Em que é que isso diminui o valor dos escritores que usaram uma ortografia nova face aos anteriores?: em nada. O que é que as várias atualizações que a ortografia portuguesa sofreu em muitos anos afetaram a dignidade de Portugal e dos portugueses: em nada. O mesmo se passa agora.
É preciso estudar, é preciso ser racional, é preciso aceitar a evolução.
“[O AO] na sua generalidade [não é] outra coisa senão a adesão quase total à ortografia anteriormente vigente no Brasil.”
De facto, não é assim, a menos que se refira às vogais mudas que agora, com cem anos de atraso, são abandonadas. Quanto ao mais, os hábitos ortográficos brasileiros são mais afetados que os portugueses.
“[O Brasil] revogou o Acordo de 1945, connosco conjuntamente elaborado e assinado.”
Não é verdade. Quem assinou o acordo de 1945 foram os representantes brasileiros que o acordaram com os representantes portugueses. Acontece que os políticos do Brasil não aceitaram que fossem reintroduzidas na ortografia consoantes mudas que tinham sido eliminadas uns anos antes, assim como os políticos portugueses de 1945 também não teriam aceite voltar a escrever consoantes mudas que já tinham caído (ex: appellar, accommodar)
De resto, os políticos brasileiros fizeram com os acordos de 1945 o mesmo que Portugal fez com os acordos de 1943. A este respeito convém lembrar que em 1943 os representantes portugueses aceitaram a eliminação das consoantes mudas que tinham sobrado da razia de 1911, e o poder político português não aceitou.
“Lembremo-nos de que no Brasil levaram 10 anos para revogar o Acordo de 1945.”
Esta frase tem dois erros. Por um lado, como escrevi acima, o poder político brasileiro, lá como cá, não pode revogar o que não entrou em vigor. Por outro a rejeição foi, naturalmente, imediata. Provavelmente recorreu a uma fonte que o induziu em erro. Pode indicar a sua fonte, por favor?
“Estranhamente, pouca gente lhe respondeu e, dos mais habilitados na matéria, que eu saiba, ninguém.”
Não há nada de estranho na entrevista do professor Evanildo Bechara, pelo que ninguém intelectualmente honesto e/ou conhecedor da matéria o poderia contestaria. Assim mesmo Bechara comete um erro que, certamente por elegância louvável, o AV não referiu. A dado passo o Professor Bechara diz que Pessoa nunca aderiu à reforma de 1945. Como é evidente, este foi, obviamente, um lapso, porque Bechara queria referir-se à reforma de 1911.
“… deveremos, nós outros, portugueses de nascimento, de coração e de convicção, continuar orgulhosamente a escrever a Língua que Fernão Lopes, Camões, Vieira, Bernardes, Garrett, Herculano, Camilo, Antero e Eça.”
Desde 1911 que nós escrevemos com uma ortografia bastante diferente da usada por Camilo, Eça, Antero ou Garrett. A este respeito, as alterações do AO90 face à reforma de 1945 são muito pouco se comparadas com as alterações introduzidas unilateralmente por Portugal em 1911.
Acresce que Camões usou uma ortografia diferente de Fernão Lopes, e Garrett uma ortografia diferente de Vieira. Em que é que isso diminui o valor dos escritores que usaram uma ortografia nova face aos anteriores?: em nada. O que é que as várias atualizações que a ortografia portuguesa sofreu em muitos anos afetaram a dignidade de Portugal e dos portugueses: em nada. O mesmo se passa agora.
É preciso estudar, é preciso ser racional, é preciso aceitar a evolução.
Eu aconselho o António Viriato a não se deixar enredar em rodriguinhos.
O famigerado acordo ortográfico não interessa aos portugueses.
Basta ver que, para além dos seus promotores, mais ninguém o defende. Santana Lopes e Cavaco Silva, os políticos portugueses que estão na origem desta malfadada ideia, não possuem qualquer mérito intelectual na matéria que leve quem quer que seja a seguir as suas orientações ortográficas.
Aliás, a esmagadora maioria dos académicos nacionais não tem qualquer simpatia por este designado acordo.
E por muito que os brasileiros venham dizer que também para eles o acordo é penalizador, não nos iludamos. As alterações ortográficas que são propostas vão direitinhas ao encontro dos interesses do Brasil.
Seria até interessante que alguém apontasse um aspecto em que o dito acordo vem favorecer os interesses dos portugueses...
O famigerado acordo ortográfico não interessa aos portugueses.
Basta ver que, para além dos seus promotores, mais ninguém o defende. Santana Lopes e Cavaco Silva, os políticos portugueses que estão na origem desta malfadada ideia, não possuem qualquer mérito intelectual na matéria que leve quem quer que seja a seguir as suas orientações ortográficas.
Aliás, a esmagadora maioria dos académicos nacionais não tem qualquer simpatia por este designado acordo.
E por muito que os brasileiros venham dizer que também para eles o acordo é penalizador, não nos iludamos. As alterações ortográficas que são propostas vão direitinhas ao encontro dos interesses do Brasil.
Seria até interessante que alguém apontasse um aspecto em que o dito acordo vem favorecer os interesses dos portugueses...
Caro António Viriato
Por coincidência, encontro-me mais uma vez no Brasil. País que visito com muita frequência apenas por razões familiares.
Não sendo contra acordos ortográficos, dado que as línguas evoluem, não aderi a este AO porque me parece atabalhoado e insensato. E também porque não me sinto obrigado, com a minha provecta idade, a escrever segundo as novas regras.
Quanto à aproximação com o registo brasileiro, parece-me desnecessária, porque a causa há muito que está perdida. Apesar de na escrita os dois registos serem "compatíveis", digamos assim, o "brasileiro" falado é uma catástrofe. Não calcula como é difícil entender e sermos entendidos quando falamos com pessoas de baixa escolaridade. Aquilo que essa gente fala, pura e simplesmente, já não é português.
Por coincidência, encontro-me mais uma vez no Brasil. País que visito com muita frequência apenas por razões familiares.
Não sendo contra acordos ortográficos, dado que as línguas evoluem, não aderi a este AO porque me parece atabalhoado e insensato. E também porque não me sinto obrigado, com a minha provecta idade, a escrever segundo as novas regras.
Quanto à aproximação com o registo brasileiro, parece-me desnecessária, porque a causa há muito que está perdida. Apesar de na escrita os dois registos serem "compatíveis", digamos assim, o "brasileiro" falado é uma catástrofe. Não calcula como é difícil entender e sermos entendidos quando falamos com pessoas de baixa escolaridade. Aquilo que essa gente fala, pura e simplesmente, já não é português.
Respondo, sucintamente, ao Leitor Anónimo do 5.º comentario, nos pontos contestados :
R : Como pode o leitor verificar, no texto da Reforma Ortográfica de 1911, Aniceto Gonçalves Viana, seu Relator e principal inspirador, quando preceitua o abandono das consoantes dobradas, das falsas etimologias e de diversos digramas adoptados na grafia do Português, em grande parte, por mimetismo da ortografia francesa, exceptua, todavia, os casos das consoantes pré-tónicas a, e e o, pronunciadas facultativamente ou já perdidas na oralidade portuguesa, mas com influência na prosódia das palavras em que figuram, preconizando a sua manutenção na nova ortografia, incluindo os casos em que ela se justifique pela coerência para com as palavras derivadas, como é o caso de Egipto, com egípcio, egiptologia e egiptólogo, p.ex.;
-----------------------------------
R : O Acordo de 1945 foi promulgado no Brasil, inicialmente, logo em Dezembro de 1945 e objecto de revogação posterior, por Decreto-Lei do Presidente Café Filho, em 1955.
-----------------------------------
R : Não se contesta a evolução da Língua, mas a elaboração de um Acordo deficiente, que não preserva as nossas especificidades linguísticas, designadamente, as da sua forma falada, assim como não se deve defender tolamente a modernidade, pela modernidade, sem atender, no âmbito filológico,à sua propriedade, à sua coerência e respeito para com a índole típica do idioma.
Informo ainda o Leitor que já aqui escrevi, com alguma extensão, artigos sobre temas de Língua Portuguesa. Em breve, colocarei, numa só unidade, um artigo, revisto, com modificações de pormenor, em que analiso, sem complicações terminológicas, nem pretensões de erudição, o AO de 1990 sob as suas, para mim, três vertentes principais : a Linguística, a Jurídica e a Política, para o qual remeto o interessado Leitor.
Cordialmente,
AV_08Nov2012
R : Como pode o leitor verificar, no texto da Reforma Ortográfica de 1911, Aniceto Gonçalves Viana, seu Relator e principal inspirador, quando preceitua o abandono das consoantes dobradas, das falsas etimologias e de diversos digramas adoptados na grafia do Português, em grande parte, por mimetismo da ortografia francesa, exceptua, todavia, os casos das consoantes pré-tónicas a, e e o, pronunciadas facultativamente ou já perdidas na oralidade portuguesa, mas com influência na prosódia das palavras em que figuram, preconizando a sua manutenção na nova ortografia, incluindo os casos em que ela se justifique pela coerência para com as palavras derivadas, como é o caso de Egipto, com egípcio, egiptologia e egiptólogo, p.ex.;
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R : O Acordo de 1945 foi promulgado no Brasil, inicialmente, logo em Dezembro de 1945 e objecto de revogação posterior, por Decreto-Lei do Presidente Café Filho, em 1955.
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R : Não se contesta a evolução da Língua, mas a elaboração de um Acordo deficiente, que não preserva as nossas especificidades linguísticas, designadamente, as da sua forma falada, assim como não se deve defender tolamente a modernidade, pela modernidade, sem atender, no âmbito filológico,à sua propriedade, à sua coerência e respeito para com a índole típica do idioma.
Informo ainda o Leitor que já aqui escrevi, com alguma extensão, artigos sobre temas de Língua Portuguesa. Em breve, colocarei, numa só unidade, um artigo, revisto, com modificações de pormenor, em que analiso, sem complicações terminológicas, nem pretensões de erudição, o AO de 1990 sob as suas, para mim, três vertentes principais : a Linguística, a Jurídica e a Política, para o qual remeto o interessado Leitor.
Cordialmente,
AV_08Nov2012
Caro Amigo Fernando Vouga,
A sua observação é pertinente e tem a força da comprovação local.
Na verdade, o Português falado no Brasil, especialmente por parte das camadas populares, há muito que se desligou de qualquer norma culta do idioma, a portuguesa ou a brasileira, traduzindo um fracasso enorme do esforço de alfabetização empreendido pelas autoridades brasileiras, por vezes, com certo alarido e alguma presunção.
Portugal deveria estudar com cuidados redobrados este fenómeno de corrupção da Língua, muito avançado no Brasil, para se prevenir de efeitos semelhantes aqui produzidos, facilitados sempre pelo desleixo escolar consentido, que começa, inevitavelmente, na má preparação científica e pedagógica dos Professores, elementos fundamentais de qualquer política educativa.
Daqui lhe envio um abraço e um agradecimento, meu caro amigo, pelas impressões oportunamente transmitidas, preciosamente colhidas no terreno com frequência aqui referido.
AV_08Nov2102
Caro AV
Em primeiro lugar, agradeço a sua resposta.
No que respeita ao caso da revogação do acordo de 45 no Brasil, li com muita atenção o que escreveu e "espero" (ser ter certezas), poder "contrariá-lo". Para já, tomo boa nota, e confirmando-se o meu erro, desde já considere aceite a sua correção.
No que respeita à Reforma de G.Viana, conheço-a como conheço o propósito do filólogo (ainda que autoditada) no que respeita à manutenção da mudas quando, na opinião dele, serviam para abrir vogais átonas. Acontece que Viana não tomou em consideração que, ao tempo, como agora, havia vogais átonas pronunciadas abertas sem que houvesse uma consoante muda para indicar a exceção, e vogais átonas pronunciadas fechadas, apesar da consoante muda que, supostamente, indicaria a abertura excecional. De resto, bastaria Viana ter presente que as palavras "elle" e "catello" (entre tantos outros exemplos possíveis) têm tónicas pronunciadas de forma diferente, apesar da existência de uma muda, para deixar cair a suposição de, em Português, mudas influenciam átonas ou tónicas. Não influenciam, nunca influenciaram.
A reforma de 1911 teve vantagens e inconvenientes. A manutenção de mudas numa ortografia que se quis "simplificada" foi um erro, tanto mais que a própria reforma de 1911 instituiu um sistema de diacríticos para assinalar tónicas e átonas excecionais, logo, a querer seguir essa regra, bastaria que tivesse sido seguido o mesmo critério para átonas abertas seguidas por mudas.
Peço-lhe apenas que numa coisa, ainda que só nessa, todos nós, apoiantes ou opositores ao AO90 estejamos de acordo: não é mais uma mudança na ortografia que faz de nós melhores ou piores portugueses, nem é por ela que Portugal acaba ou começa. Senna não foi pior português que Eça, apesar de ter escrito numa ortografia diferente, e Camões não foi pior português que Gil Vicente, apesar de também terem escrito em ortografias diferentes. Hoje escrevemos com uma ortografia diferente do grande Fernando Pessoa, e o nosso Portugal cá continua, convenhamos que um pouco melhor do que o Portugal do tempo que o Poeta viveu.
Com estima.
Em primeiro lugar, agradeço a sua resposta.
No que respeita ao caso da revogação do acordo de 45 no Brasil, li com muita atenção o que escreveu e "espero" (ser ter certezas), poder "contrariá-lo". Para já, tomo boa nota, e confirmando-se o meu erro, desde já considere aceite a sua correção.
No que respeita à Reforma de G.Viana, conheço-a como conheço o propósito do filólogo (ainda que autoditada) no que respeita à manutenção da mudas quando, na opinião dele, serviam para abrir vogais átonas. Acontece que Viana não tomou em consideração que, ao tempo, como agora, havia vogais átonas pronunciadas abertas sem que houvesse uma consoante muda para indicar a exceção, e vogais átonas pronunciadas fechadas, apesar da consoante muda que, supostamente, indicaria a abertura excecional. De resto, bastaria Viana ter presente que as palavras "elle" e "catello" (entre tantos outros exemplos possíveis) têm tónicas pronunciadas de forma diferente, apesar da existência de uma muda, para deixar cair a suposição de, em Português, mudas influenciam átonas ou tónicas. Não influenciam, nunca influenciaram.
A reforma de 1911 teve vantagens e inconvenientes. A manutenção de mudas numa ortografia que se quis "simplificada" foi um erro, tanto mais que a própria reforma de 1911 instituiu um sistema de diacríticos para assinalar tónicas e átonas excecionais, logo, a querer seguir essa regra, bastaria que tivesse sido seguido o mesmo critério para átonas abertas seguidas por mudas.
Peço-lhe apenas que numa coisa, ainda que só nessa, todos nós, apoiantes ou opositores ao AO90 estejamos de acordo: não é mais uma mudança na ortografia que faz de nós melhores ou piores portugueses, nem é por ela que Portugal acaba ou começa. Senna não foi pior português que Eça, apesar de ter escrito numa ortografia diferente, e Camões não foi pior português que Gil Vicente, apesar de também terem escrito em ortografias diferentes. Hoje escrevemos com uma ortografia diferente do grande Fernando Pessoa, e o nosso Portugal cá continua, convenhamos que um pouco melhor do que o Portugal do tempo que o Poeta viveu.
Com estima.
Há raciocínios brilhantes. Como a ortografia da nossa língua já passou por várias modificações e ninguém morreu por causa disso, é perfeitamente legítimo avançar com outra. E se for do interesse do Brasil, isso então é ouro sobre azul...
Caro senhor anónimo das 7:26 p.m.
Concordo em parte consigo. Uma língua não é uma peça de museu, é uma ferramenta valiosíssima de comunicação. Nesses termos, se os brasileiros e portugueses falassem a mesma língua, mesmo com algumas diferenças, seria extremamente vantajoso para amos os povos, e sobretudo para nós.
Porém as coisas não são assim tão fáceis. Diplomacias à parte, temos de reconhecer que a esmagadora maioria dos brasileiros, que contam ainda muitos analfabetos, não fala português. Como afirmei no meu comentário acima, a comunicação é impossível. Temo mesmo que dois analfabetos, um de cada país, não conseguem entender-se minimamente.
A evolução do registo brasileiro, para lá de ser difícil de acompanhar, é demasiado confusa para que haja uma harmonização séria e credível que sirva de base de trabalho para negociações entre os PALOP. Não o verifiquei pessoalmente, mas não acredito que o “brasilês” do Pernambuco e do Rio Grande do Sul seja o mesmo. E é fácil de imaginar que as autoridades brasileiras têm pela frente um problema quase insolúvel (para não falar das muitas línguas nativas).
Tal como aconteceu com o latim na Europa, os divórcios são inevitáveis. São uma questão de tempo. Assim sendo, será legítimo e vantajoso fazer acordos ortográficos apenas para acompanhar a marcha vertiginosa dos brasileiros? Quanto a mim, penso que, na prática, essa preocupação só serve para criar o caos.
Concordo em parte consigo. Uma língua não é uma peça de museu, é uma ferramenta valiosíssima de comunicação. Nesses termos, se os brasileiros e portugueses falassem a mesma língua, mesmo com algumas diferenças, seria extremamente vantajoso para amos os povos, e sobretudo para nós.
Porém as coisas não são assim tão fáceis. Diplomacias à parte, temos de reconhecer que a esmagadora maioria dos brasileiros, que contam ainda muitos analfabetos, não fala português. Como afirmei no meu comentário acima, a comunicação é impossível. Temo mesmo que dois analfabetos, um de cada país, não conseguem entender-se minimamente.
A evolução do registo brasileiro, para lá de ser difícil de acompanhar, é demasiado confusa para que haja uma harmonização séria e credível que sirva de base de trabalho para negociações entre os PALOP. Não o verifiquei pessoalmente, mas não acredito que o “brasilês” do Pernambuco e do Rio Grande do Sul seja o mesmo. E é fácil de imaginar que as autoridades brasileiras têm pela frente um problema quase insolúvel (para não falar das muitas línguas nativas).
Tal como aconteceu com o latim na Europa, os divórcios são inevitáveis. São uma questão de tempo. Assim sendo, será legítimo e vantajoso fazer acordos ortográficos apenas para acompanhar a marcha vertiginosa dos brasileiros? Quanto a mim, penso que, na prática, essa preocupação só serve para criar o caos.
Caro Fernando Vouga
Não quero ofendê-lo, mas estou com receio de que não tenha entendido que o meu comentário não era mais do que uma ironia suscitada pelo comentário anterior...
Relativamente ao abastardamento da nossa língua no Brasil, é assunto que não me tira o sono. Eles que façam o que quiserem com a língua deles, desde não interfiram naquilo que fazemos com a nossa.
O que me preocupa e me indigna é a atitude das autoridades nacionais ao pretenderem interferir na ortografia da nossa língua, de uma forma cobarde e rasteira, em que procuram obrigar os portugueses a escrever como se escreve no Brasil.
Não quero ofendê-lo, mas estou com receio de que não tenha entendido que o meu comentário não era mais do que uma ironia suscitada pelo comentário anterior...
Relativamente ao abastardamento da nossa língua no Brasil, é assunto que não me tira o sono. Eles que façam o que quiserem com a língua deles, desde não interfiram naquilo que fazemos com a nossa.
O que me preocupa e me indigna é a atitude das autoridades nacionais ao pretenderem interferir na ortografia da nossa língua, de uma forma cobarde e rasteira, em que procuram obrigar os portugueses a escrever como se escreve no Brasil.
Caro senhor
Obrigado pela sua resposta e não tem nada que pedir desculpas. Na verdade, admiti a hipótese de humor, mas preferi aproveitar o ensejo para acrescentar mais alguns argumentos.
Quanto ao abastardamento que refere, vou-lhe dar um exemplo: há dias, para falar com um canalizador ("encanador" em brasilês), tive de passar o "cêlulá" a uma brasileira que estava perto e serviu de tradutora!
Obrigado pela sua resposta e não tem nada que pedir desculpas. Na verdade, admiti a hipótese de humor, mas preferi aproveitar o ensejo para acrescentar mais alguns argumentos.
Quanto ao abastardamento que refere, vou-lhe dar um exemplo: há dias, para falar com um canalizador ("encanador" em brasilês), tive de passar o "cêlulá" a uma brasileira que estava perto e serviu de tradutora!
Ora aí está ! Os líricos que promovem este "acordo" estão convencidos de que ultrapassam estas diferenças se nós, portugueses, escrevermos à moda do Brásiu...
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